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Theatro da Paz, na praça da República, em Belém/PA remonta a 1874, e foi construído com dinheiro da extração da borracha da Amazônia. (Foto: Leonardo Heffer) |
É na praça da República, levantada de forma majestosa, mas ainda assim discreta, que está um dos grandes símbolos da história de Belém: o Theatro da Paz. O prédio, que tem construção e inauguração ainda na época do império, por volta de 1870 e 1880 é um verdadeiro passeio a era áurea da economia da borracha.
O projeto do teatro é de um Pernambucano: José Tibúrcio Pereira Magalhães. Ele foi o responsável pela arquitetura também da Assembleia Legislativa do Recife e diretor das obras de reconstrução do Teatro Santa Isabel (Também no Recife/PE), destruído em um incêndio em 1869. Ele era engenheiro militar e suas obras tinham um caráter extremamente neoclássico. Essas características foram desenhadas no Teatro da Paz, que começou a ser construído em 1869 e somente em 1874 terminou de ser edificado. Porém sua inauguração foi ainda mais tarde, em 1878, porque denúncias contra os construtores do prédio acabaram adiando a inauguração.
Para quem passa por Belém pela primeira vez, sem guia turístico, é interessante procurar a visita guiada ao teatro. Aconselho imensamente o passeio de domingo pelo teatro. Isso porque além de aproveitar a visita, ainda pode dar uma conferida na feirinha que acontece na praça da república só aos domingos. Há uma visitação às 10h. O preço é R$ 4.
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Primeira parada da visita é no saguão do teatro, com escadas de mármore, lustre com cristais franceses, e bustos esculpidos em mármore de carrara representando José de Alencar e Gonçalves Dias. (Foto: Leonardo Heffer) |
A primeira parada da visita guiada é no saguão do teatro. Lustre com cristais franceses, com detalhes que lembram as sementes das região; escadaria de mármore; mosaico do chão todo colocado com o grude (cola) de um peixe da região. Em cada coluna, na entrada, é possível ver um busto esculpido em mármore de carrara: um de José de Alencar outro de Gonçalves Dias, escritores responsáveis por introduzirem na literatura, o índio.
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Interior do Teatro da Paz, ao fundo o palco e a plateia, no formato de ferradura (ou formato U), onde os camarotes dos dois primeiros pisos eram destinados a barões e os dois últimos aos empregados (Foto: Leonardo Heffer) |
A segunda parada é dentro do teatro. Em formato de ferradura (ou no formato U, como muitos conhecem) o teatro é formado por cadeiras da plateia, que fica, no piso térrio, e mais 4 andares com cadeiras separadas como se fossem pequenos camarotes. Na época da inauguração (e por muitos anos seguidos) os lugares mais à altura do palco, e dois andares acima, eram destinados às classes mais ricas. Os dois últimos pisos (o último conhecido como "paraíso", por estar mais próximo ao céu) eram destinos aos serviçais, escravos ou empregados; De acordo com a guia do espaço, essa segregação continua ainda hoje por meio dos preços dos ingressos: os dos andares mais baixos, os mais caros e os dois últimos andares, os mais acessíveis.
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Os camarotes são sustentados por ferros que parecem fazer parte da
decoração do Teatro. (Foto: Leonardo Heffer) |
Vale destacar aqui, assim como o é destacado durante a visita, que o sistema de refrigeração já existia no começo do século passado. As saídas de ar eram localizadas abaixo das cadeiras do primeiro piso, mantendo a refrigeração para as famílias mais ricas, enquanto os andares superiores ficavam em espaço mais quente. Só depois do ano 2000, com uma recente reforma do teatro, é que as saídas do sistema de refrigeração passaram a ser no teto do teatro.
Como se pode ver na foto ao lado, em nenhum ponto dos balcões no teatro existem colunas sustentando os camarotes. Eles são suspensos, presos por armações de ferro trabalhadas que é possível ver como se fossem divisórias dos camarotes no teto de cada piso.
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Parte do Foyer do Teatro da Paz, com seus lustres, portas, e o piso, por onde já não se pode mais andar. O local era o espaço das festas da sociedade paraense do começo do século XX. (Foto: Leonardo Heffer) |
Outro espaço levado pela visita guiada é o conhecido Foyer. Hoje o espaço não é mais usado, e a visita só pode ser feita sobre um tapete vermelho disposto sobre o piso de madeira, já que o piso se encontra extremamente gasto. Era neste local onde aconteciam bailes para as jovens da sociedade no começo do século passado. Novamente, cabia aos criados das senhoras permanecerem em balcão, que rodeia a sala no andar superior.
A facahada do teatro também passou reformas muito antes da que revitalizou o espaço no começo do século XXI. Ainda em 1904, a frente do teatro foi recuada devido a um erro de cálculo dos engenheiros e arquitetos responsáveis pela construção do local. Isso tudo porque, a arquitetura neoclássica usada na construção não condizia com as diretrizes desse tipo de arquitetura. Na história, o neoclássico pregava que colunas deveriam ser sempre construídas em números pares, e na obra foram erguidas sete colunas. O erro foi corrigido nesse recuo, que fez com que o teatro ficasse com seis colunas.
Hoje, o Teatro da Paz, nome dado pelo arcebispo da época Dom Macedo Costa, é considerado o maior da região norte, um dos mais luxuosos do país, e um dos teatros-monumentos do Brasil.
Veja mais fotos do teatro:
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A placa de aviso "Proibido fumar" é ainda do começo do século XX, quando se usava H nas palavras e ainda apresenta o mesmo aviso em francês, italiano, inglês e alemão. Registro para a ordem de importância das línguas na época. (Foto: Leonardo Heffer) |
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Outra imagem do Foyer é possível identificar o balcão suspenso, onde ficavam os empregados das senhoras que participavam dos bailes no salão. (Foto: Leonardo Heffer) |
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Escadas de acessos aos dois últimos andares de camarotes do Teatro da Paz. Percebe-se que com a diminuição da importância da casta, também diminui a pompa da arquitetura do Teatro (Foto: Leonardo Heffer) |
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Corredores de acesso aos camarotes do segundo piso do Teatro da Paz. (Foto: Leonardo Heffer) |
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Entrada para o primeiro piso de camarotes do Teatro da Paz. Espelhos e esculturas marcam as riquezas do Pará do período áureo da extração da borracha no estado. (Foto: Leonardo Heffer) |
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